quinta-feira, 30 de julho de 2009

Sábias palavras


Que pode uma criatura senão,
Entre criaturas, amar? Amar e esquecer, amar e malamar, Amar, desamar, amar? Sempre, e até de olhos vidrados, amar? Que pode, pergunto, o ser amoroso, Sozinho, em rotação universal, senão Rodar também, e amar? Amar o que o mar traz à praia, O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha, É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia? Amar solenemente as palmas do deserto, O que é entrega ou adoração expectante, E amar o inóspito, o áspero, Um vaso sem flor, um chão de ferro, E o peito inerte, e a rua vista em sonho, E uma ave de rapina. Este o nosso destino: Amor sem conta, Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas, Doação ilimitada a uma completa ingratidão, E na concha vazia do amor à procura medrosa, Paciente, de mais e mais amor. Amar a nossa falta mesma de amor, E na secura nossa, amar a água implícita, E o beijo tácito, e a sede infinita.(Carlos Drummond de Andrade)

2 comentários:

  1. Às vezes a gente encontra várias pessoas que conseguem fazer isso, não é? Acho que o segredo é nunca fechar a porta pra um sentimento assim, esse frio na barriga sempre vale a pena, sempre.
    Sumida!!!!
    beijo

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  2. bonito, muito bonito... a "prática" é um pouco diferente na minha opinião... mas isso fica prá um post, tá bem?
    Bjks sua sumida...

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